ainvencao_morel_gde               Todos nós temos (ou deveríamos ter!) uma lista de filmes incríveis com finais inesquecíveis e que mudam completamente o rumo da história. Quantos de nós, no entanto, tem uma lista cheia livros que se encaixem nesse requisito? Este livro, certamente, é um deles. A Invenção de Morel está no grupo de livros deliciosos de ler, mas sobre os quais é bastante difícil escrever: não por causa de grandes inovações formais, como O Jogo da Amarelinha, e nem por causa do tabu do assunto, como História do Olho: é porque ele é um livro envolto em mistério e seria uma pena revelar detalhes demais e prejudicar as surpresas de alguém que decidir lê-lo.

               O livro é uma espécie de diário de um homem que diz ter sido condenado à pena de morte apesar de ser inocente. Ele é um fugitivo: para não ser morto injustamente, ele decide ir morar em uma ilha deserta. Deserta porque, dizem, todos que passaram por lá morreram: vários corpos sem cabelos, pelos ou unhas foram encontrados. Um dia, porém, esse fugitivo começa a ouvir barulhos e descobre que a ilha já não estava tão deserta assim: mas de onde teria vindo aquela gente? Será que tinham vindo para o prender?

                Uma ilha cheia de mistérios: achei meio difícil não lembrar de Lost e confesso que senti uma empolgação semelhante à que tive assistindo à série, enquanto os segredos foram sendo revelados e eu acompanhava as anotações deste nosso fugitivo. Mas ainda mais uma semelhança me veio à mente: a da cena inicial de Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961), em que os personagens se mexem normalmente e, de repente, estacam, como em um jogo de estátua. (No geral, é um filme estranho e interessante, aqui vai o trailer para quem quiser conferir: http://www.youtube.com/watch?v=yc6n2McMAnY).

            Gostei bastante do livro e, com medo de escrever mais do que devo, encerro com o finzinho do texto do Otto Maria Carpeaux que serve de posfácio a esta edição da Cosac e que, espero, vai terminar de convencer quem ainda estiver na dúvida sobre ler ou não o livro: “A Invenção de Morel é uma sátira. Mas objeto da sátira não é a técnica e, sim, a condição humana. Pois assim como o fugitivo de Bioy Casares temos todos nós a escolha, apenas, entre a morte pela peste e a prisão da vida – até a morte.”

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Adolfo Bioy Casares, A Invenção de Morel. São Paulo: Cosac Naify, 2006. 132 páginas. Tradução de Samuel Titan Jr.

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Este é um post para o Desafio Literário SDDS Augusto, nomeado por mim e criado pela Gabi. Este livro é o do mês de fevereiro, em que o combinado era ler algo de Literatura Latino-americana. Aqui você pode ver a minha a minha lista de possíveis leituras para os próximos meses.